sábado, 14 de agosto de 2010

A sombra.

Todas as noites antes de dormir, mesmo sem sono, encolhia-me na cama a espera de alguma coisa. Eu sabia o que era, só eu. Não havia mais medo, pelo contrário. Agora, eu gostava de sua presença. Eu gostava de saber que algo me visitara todas as noites, como um beijo de "durma bem". Apesar dela nunca ter chegado perto nem eu nunca ter ido atrás, eu sabia que era algo bom. Talvez, em meio a tanta solidão que sentia todos os dias, a certeza que eu tinha era que de noite, eu teria a minha companhia. Breve, bem breve. Mas me trazia sempre uma paz inenarrável. Ela sempre aparecia, entre a porta do quarto e o guarda-roupas, entre as frestas da cortina. Não conseguia distinguir o tamanho do cabelo, que tipo de roupa usava, nem sexo, nem o sentimento que eu tivera por ela, até aquele instante.
Dormi.
Certa noite, deite-me à espera da minha paz, do meu beijo de durma bem... Esperei.
Vejo a sombra, da mesma forma como todas as noites, em todos esses anos de solidão. Intacta, imóvel. Por um instante, a vejo diminuir como se chegasse mais perto. Fechei e abri os olhos, esfregando-os. Só podia ser miragem. Quantas noites sonhei e pedi para que chegasses perto, para sequer eu soubesse o que era aquilo...
Sim, estava chegando cada vez mais perto, até que se perdeu a escuridão.
Um silêncio, uma aflição. Alguém estava ao lado da minha cama, eu podia sentir.
Acendi a luz.

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